segunda-feira, julho 31, 2006

Uatu

Olhar que tudo toca sem sentir. Não se deixa envolver pelos sedutores véus da paisagem nocturna. Plana sobre o ruído difuso, respira o ar abafado, mas não se deixa contagiar, não se permite fazer parte desse mundo de encantamento e mistério. Mas ainda que no seu intimo anseie ser pedra não deixa de sentir que nesse pairar sobre a multidão encontra mais do que espera, é superado pelo turbilhão. Algo que lhe é roubado e devolvido. Algo parece insistir para que não permaneça mudo quando apenas pode observar.
Uatu. Pacto de inércia. E eis que os humanos invadem o seu peito com gestos e danças que lhe arrancam as lágrimas à força. Persistir é comovê-lo.
Uatu nunca soube aceitar a sua condição de vigia. Um pequeno sopro e o pacto é quebrado. Aquele pequeno segredo guardado abriu o lacre que dissolveu no vento.
Uatu agradece em silêncio do brilho que cintila do fundo negro dos seus olhos.
Luis V.

Sem comentários: