quarta-feira, agosto 02, 2006

A tua ausência

A tua ausência é, em cada momento, a tua ausência.
não esqueço que os teus lábios existem longe de mim.
aqui há casas vazias. há cidades desertas. há lugares.


mas eu lembro que o tempo é outra coisa, e tenho
tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.

aqui não há palavras. há a tua ausência. há o medo sem os
teus lábios, sem os teus cabelos. fecho os olhos para te ver
e para não chorar


José Luís Peixoto, A Casa, a Escuridão

Foste eterna até ao fim

Devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgávamos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
e idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.
José Luís Peixoto, A Casa, a Escuridão

O «para quê?»


A grande obsessão do homem é dar um sentido à vida. (...) O para quê é a pergunta obsessiva depois de tudo o que perfeitamente lhe respondeu. Mas não se responde para calar uma pergunta e sim para lhe dar tréguas e ela poder erguer-se outra vez. Porque perguntar é abrir a distância que está sempre em nós.
Vergílio Ferreira, Pensar