segunda-feira, julho 03, 2006

Amanheço-me



Um café e um pastel de nata, entre o Oriente e a Utopia. Amanheço por entre a suave brisa da manhã. Agradeço pela grandeza de tudo isto enquanto observo pardais saltar de migalha em migalha. Rendo-me e abandono-me nesta grande orgia cósmica em que fazemos amor com o universo.
O TEMPO... sempre essa perigosa obcessão com o tempo. Sempre a querer fugir de encontro a ele, a querer ficar no tempo, na História, rumo à Eternidade. Nunca quis menos que a Divindade. Despido do industrial refugio-me no bater dos raios de sol que me aconselham calma e cuidado e me abraçam com a sofreguidão de um náufrago que chega por fim ao seu porto seguro. Quero-me como nunca antes, amo-me nos outros que me são e em todas as coisas que me rodeiam. Sem corridas. Chega de pressas. Pressa de fazer, de não fazer, sempre esse pêndulo do despacha-te e acelera o compasso. Chega de querer preencher o vazio, é hora de saborear o recheio de cada instante antes de tropeçar no seguinte. Um hino às lágrimas e aos arrepios que invadem sem ser convidados, que irrompem de onde não esperamos e que os aceitamos porque disponíveis para.... Chega de: «não tenho tempo para isto», «tenho que correr para aquilo».
Adoro as manhãs, a vitalidade pura que irradia de uma manhã e que se corrompe ao longo do dia até à noite. Já não há manhãs, apenas prelúdios. Tudo é prelúdio para algo, e em prelúdios se caminha até ao NADA. Enquanto o que vem a seguir é que é importante, o momento presente vai ser sempre recheado de pequenos nadas.
Só quando vir para além dos pequenos nadas e perceber que a escalada até ao nada é a nossa condição de humanos contra-tempos, e quando perceber que esses nadas são pouco mais que tudo. Só aí o presente transcende a dimensão de Saudade e Ânsia e se torna eterno.

Luis V.
Maio 05

2 comentários:

Anónimo disse...

"Nada de grande se faz sem paixão".
Hegel

Anónimo disse...

Éter
na
mente