segunda-feira, julho 03, 2006

Sinto-me


Aconteceu o que me parecia já impossível. Apaixonei-me. Apaixonei-me ainda mais pela vida, pelo mundo que me rodeia, pela coreografia das folhas nas árvores e pelo gesto que desenham na atmosfera quando o vento as arranca da sua solidão por entre uma multidão cega, surda e muda, que parece já não saber sentir.
Neste momento, o ar quente traz-me mais notícias do que nunca, fazendo-me desejar crescer nesse sentir.
Sinto-me num permanente amanhecer de esperança acompanhado pelo sabor nostálgico do crepúsculo nos lábios.
Sinto-me tão vivo que só me apetece abrir os braços e sentir. Como uma antena. Sentir tudo à minha volta. A época dos muros e das muralhas que nos protegem das desilusões está no fim. O medo de desiludir e de ser desiludido está no fim. Quero abraçar. Afinal uma des-ilusão é um bálsamo para a consciência. Não há fronteiras para este sentir-me transbordar.
Sinto que já não preciso de espada nem de armadura.
Sinto-me imortal. Como se a Felicidade de que são tecidos os meus dias estivesse preparada para tudo sarar, ou deixar sangrar num uivo que desafia o vento e dança com a chuva.

4 comentários:

Anónimo disse...

"Sentir tudo à minha volta": um dom; um dom que poucos possuem. Os comentários, esses...ficam no ar...

Anónimo disse...

Passa-me ao lado muita coisa, da vida e do mundo. O tempo é pouco. Não quero fazer parte da multidão cega e surda. Falta-me tempo para sentir.

Anónimo disse...

Uma metáfora que simboliza bem a necessidade de sentir. A cada palavra, a cada frase, o sentimento puro, a beleza atingida.

E no entanto, os muros e as muralhas com que nos protegemos, mantêm.se em pé, por cada um de nós, que tanto tememos esse sentir. Como eu. Talvez um dia aprenda a desmoroná.los.

Luis V. disse...

Não me parece que seja tanto uma aprendizagem como uma necessidade, como algo inevitável, como um recipiente que é pequeno demais para o líquido que nele despejamos também nós somos pequenos demais para tanto sentir, daí o transbordar, daí o fim das fronteiras.
Um beijinho especial.
Luis V.