Uma Árvore. Espelho vivo da condição humana. Ao germinar o céu aberto alimenta sonhos de eternidade. Crescemos. Crescemos em direcção a esse horizonte sem limites. Azul. Imenso. Depois a noite pinta-o de escuro. Um sorriso. Milhares de pontos cintilantes acendem-nos um sorriso. Para lá do espanto pálido da Lua ansiamos ainda poder tocar essas orbes. Ir mais além. Ramificações que se estendem para lá de nós. Infinito? Nesse momento o peso da terra torna-se insuportável. Poder voar. O peso da raiz debaixo da terra torna-se insuportável. Como se um apelo nos puxasse da pedra que nos sustenta.
Uma Casa. As pedras, as árvores, os sons que ecoam à passagem de um vento profundo, que sussurrando, nos conta o segredo dessas vozes de outrora, vozes que se faziam ouvir muito antes de nós. Aqui se encontra o retiro espiritual perfeito. Faz-nos despertar para os uivos primordiais de uma natureza que nos precede e ultrapassa, e que simultaneamente apenas vive no pequeno instante que cabe entre o precede e o ultrapassa, isto é, no momento em que nos trespassa. As pedras, o frio das pedras, as árvores, o cheiro das árvores, a casa, os sons, as cores, as linhas da casa, apenas respiram no momento em que as vemos. As folhas, os ramos, as gotas da chuva apenas dançam porque existimos. As linhas da casa ensinam uma verdade tão antiga como o tempo: Não há rupturas, apenas transfigurações.
E num instante tudo parece fazer sentido de novo, porque a eternidade não se encontra para lá das nuvens, mas do lado de cá. E é nestes pequenos momentos em que nos sentimos vitoriosos. Momentos em que sentimos que roubamos o fogo aos Deuses reclamando o espaço infinito para tamanho sentir.
Obrigado.